Um dos Portugueses que participou na Andorra Ultra Trail, mais precisamente nos 170 quilometros da Ronda del Cims, foi o meu amigo e Capitão de equipa na aventura solidária Toca a Todos: João Colaço.
Este ano foi o melhor português ao terminar a Ronda del Cims na 19º posição, mas ainda assim o final teve um trago ligeiramente amargo pela falta de fairplay de dois outros atletas, que aproveitaram um erro do João para o passarem mesmo no fim da prova. O “espírito do trail” contradiz de todo este tipo de atitudes, mas sendo o Trail Running uma disciplina cada vez mais competitiva e com um número de praticante a crescer enormemente todos os dias, não me espanta nada que o “espírito do trail” comece cada vez mais a rarear por esses trilhos fora.
Fica aqui o testemunho do João Colaço ao Jornal de Leiria.

Continuação de bons treinos e de boas provas!!!
Boa tarde Nuno,
Pessoalmente, e volto a frisar, é a minha opinião pessoal, não estou de acordo com a “desilusão” relatada no Jornal pelo atleta João Colaço. Num qualquer treino compreendia e subscrevia as palavras, agora numa prova, que é o que estamos a falar, não estou de acordo.
Seja em trail, em estrada, terreno misto ou afim, uma prova é uma competição. Pressupõe (que dentro das regras estipuladas no regulamento) se tente chegar do lugar A ao lugar B no mais rápido que o atleta consiga.
Posto isto, o atleta João Colaço, pelo que leio na noticia, ter-se-á perdido do trajecto do percurso e com isto perdido algum tempo que lhe terá custado as duas posições relatadas… …ora é uma corrida, tenha 170 kms ou 170 metros, não era de esperar que os outros atletas aproveitassem a “folga”?
O “espirito de trail” que também se encontra no “espirito de estrada”, depende especialmente de quem participa. Volto a dizer, num treino era de esperar que o João Colaço se sentisse desiludido (até eu ficava se acontecesse comigo), mas numa prova? Numa prova é suposto competir-se, é para isto que elas existem.
Um abraço Nuno!
Concordo contigo Sérgio, uma competição é para competir e ponto final. No entanto compreendo também o desabafo do João, visto que no “espírito do trail” a camaradagem era, talvez, bem mais importante que estes sprints ao fim de 170km de prova, e para mais nesta prova em particular onde há um histórico de situações em que isso aconteceu. Diria que com a globalização da corrida de montanha/aventura, a competição vai ser cada vez mais feroz e o “espírito do trail” terá tendência a desvanecer. Isso, eventualmente, levantará outro problema para as organizações, do tipo quando um dia um atleta de topo tiver um azar e o que vem atrás passar por ele e o ignorar…
Para mim a “desilusão” do atleta João Colaço, numa prova, não têm fundamento! Num treino teria sim, e muito! Mas numa prova não têm…
Imagina um dos seguintes exemplos (desvaneios) que te vou dar, numa maratona de estrada o Quéniano que vai à frente perder-se por algum motivo e quando volta-se ao percurso da prova já lhe tinham passado 5 ou 6 atletas, alguma vez estes iriam esperar pelo “ai Jesus” da estrada?
Ou ainda agora à bem pouco tempo a atleta que bateu o record do mundo em pista, por algum motivo, tivesse de abrandar (tivesse-se perdido ou parado para atar os ténis), alguma vez na vida as outras atletas iam esperar por ela?
O “espirito de trail” e também o “espirito de estrada” existem porque as pessoas os fazem, não pelo tipo de terreno onde correm.
O problema, e mais uma vez friso que é a minha opinião pessoal, é que muitos dos atletas, especialmente em provas de trail, mas também acontece em estrada, vão participar como se dum qualquer treino ou convívio se tratasse! E eis o verdadeiro motivo de depois ficarem “desiludidos”, se estão numa competição (estrada, trilhos, ou outros) quem participar, devia ter, mais que não seja para si, o objectivo de de superar a si mesmo!
Respeitante ao que vou dizer de seguida, não estou a dizer que seja o caso do atleta João Colaço, mas como o que acontece, é que existem centenas de pessoas que vão para provas, como se de um passeio ou treino com os amigos se tratasse, e isto é tão frequente, que tenho tido conhecimento que existem provas onde as organizações se “furtam” de responsabilidades, pois estão a contar, que em caso de algum azar, os atletas vão ajudar uns ao outros!
Éticamente falando, acho muito bem, é um gesto muito altruista que alguém abandone a sua prova para socorrer alguém em necessidade! Isto é o que penso! Mas dai as organizações “relaxarem a segurança” dos atletas, exactamente porque estão a contar com o “espirito trail, espirito de estrada, ou qualquer outro espirito”, bem… ai não estou nem um pouco de acordo. Mas nem um pouco mesmo!
Abraço,
Já há uns dias entrei num “debate” com o tema mais ou menos relacionado, se por acaso tiveres hipótese, lê os dois posts e respectivos comentários, do blog da Marta, uma atleta pelo qual tenho uma enorme admiração
http://correpiolhacorre.blogspot.pt/2015/06/quanto-mais-estrada-que-faco-mais-de.html e http://correpiolhacorre.blogspot.pt/2015/06/mau-texto-leva-uma-ma-interpretacao.html
Um abraço