Uma das perguntas recorrentes a quem corre maratonas ou ultra distâncias é: “o que se pensa enquanto se corre?”
Da minha experiência, correr quatro, cinco, dez ou mais horas de seguida, pode levar a mente de cada um aos pensamentos mais díspares e inusitados.
Li há dias um estudo interessante sobre este tema, mas que se foca no “pensar alto”, “diálogo interior” ou “auto verbalização” do corredor. Este conceito refere-se ao que falamos connosco próprios, seja em voz alta ou em pensamentos, e geralmente é um recurso que utilizamos para nos auto motivar. Estima-se que no dia-a-dia auto-verbalizamos entre 300 e 1000 palavras por minuto, pelo que é importante prestarmos alguma atenção à qualidade dos nossos pensamentos.
Esse estudo, que está disponível clicando aqui, pegou numa amostra de 10 atletas amadores de longas distâncias (6 homens e 4 mulheres), com idades entres os 29 e 52 anos e experiência de corrida entre 3 a 30 anos, que correm no mínimo três vezes por semana, e foram gravados os “pensamentos em voz alta” durante os treinos e uma corrida de cada um. Esse processo deu origem a cerca de 18 horas de gravações e os resultados apresentados foram os seguintes:
40% dos pensamentos estão relacionados com o ritmo e distância, o que mostra o quão importante é a performance do atleta, mesmo em contexto não competitivo e inclui pensamentos como:
- Manutenção do ritmo – por exemplo,”downhill, não te mates agora, apenas rolar”;
- Estratégias para manter e corrigir o ritmo e a passada – por exemplo,”manter firme, alargar a passada, manter firme”;
- Alteração do ritmo – por exemplo, “5:30/km e está tudo ok … 3 Km para percorrer … 5:10/Km será melhor.
32% dos pensamentos estão relacionados com a dor e desconforto, onde se incluem pensamentos como:
- Pequenas ou grandes dores – por exemplo: “ainda sinto o tornozelo”);
- Queixas sobre a corrida – por exemplo: “hoje não estou com vontade de correr”);
- Causas da dor ou desconforto – por exemplo: “esta subida é uma pu.., é longa e está muito calor, fo..-..”;
- Auto motivacionais para enfrentar as adversidades – por exemplo: “Respira… relaxa… ombros e pescoço relaxados…”.
Os restantes 28% costumam ser sobre o ambiente em que ocorre a prática. Isto inclui pensamentos sobre a geografia, o tempo ou a vida selvagem, como por exemplo:
- “Hoje está muito calor”;
- “Oh meu Deus… isto é tão lindo! O mar, as montanhas…”;
- “Espero não encontrar cobras por aqui”;
- “Detesto estas ruas cheias de carros…”.
Se se pensava que os atletas de longa distância utilizavam este tempo para resolver dilemas da vida, como problemas de relacionamento, enigmas metafísicos, afazeres domésticos, de trabalho, ou ainda organização de tarefas por exemplo – não parece, pelo menos a julgar por esta amostra de atletas, que tal aconteça. Eles concentram-se sobretudo no seu desempenho, sensações corporais e ambiente ao redor.
Acredito que estes participantes tenham “censurado” muitos de seus pensamentos, mas isso nunca poderemos saber com certeza.
E vocês no que pensam e o que vociferam enquanto correm? Partilhem aqui nos comentários os vossos pensamentos 🙂
Continuação de bons treinos e de boas provas!!!
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