Quem nunca saiu de Lisboa viaja ao infinito no carro até Benfica, e, se um dia vai a Sintra, sente que viajou até Marte.*
Gostava de ir correr por aí, descobrir, ou melhor conquistar, os trilhos deste mundo e do outro. Detesto chegar a Sintra e ter a sensação de que cheguei a Marte, tal a vontade de descobrir outros mundos e outras gentes. E pessoalmente até nem me posso queixar, apesar de haver muitos trilhos para conquistar, já percorri alguns outros pelo mais diversos países que me permitem outras interpretações de quem não teve essas mesmas oportunidades.
Viajar é interpretar. Duas pessoas vão ao mesmo país e, quando regressam, contam histórias diferentes, descrevem os naturais desse país de maneiras diferentes. Uma diz que são simpáticos, a outra diz que são antipáticos. Uma diz que são tímidos, a outra diz que não se calam durante um minuto.**
Viajar é isto e ir correr numa viagem é isto também. É descobrir novas pessoas, novos lugares, novas paisagens, novas sensações… é dois amigos correrem o mesmo trilho e ambos terem opiniões e sensibilidades diferentes sobre o que viveram.
A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores.***
Viajar e correr uma Ultra Maratona têm ambas estas similitudes. É convivermos horas a fio connosco próprios, divagar e falar sozinhos com o nosso eu, ultrapassar muitas fronteiras interiores que nunca ou raras vezes ultrapassamos.
Tenho sede de viajar, sede de aventuras, sede de correr em locais que ainda não sei descrever.
Alguém me traga um copo de água por favor…
Continuação de bons treinos e de boas aventuras!!!
*** Mia Couto
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