A minha primeira aventura ciclística foi pedalar o Tróia – Sagres em 2015. Um mês antes dessa aventura nem bicicleta tinha, bicicleta essa que ganhei num passatempo da Decathlon, pouco mais de três semanas antes da data dessa aventura. À data foi para mim uma aventura épica que relatei no artigo disponível clicando aqui. Desde então, muitos foram os quilómetros já pedalados pelas minha pernas, não nessa bicicleta mas noutra um pouco mais moderna e de estrada.
Com toda a atipicidade que o ano de 2020 nos tem presenteado, tinha idealizado fazer um desafio ciclístico nos primeiros dias das minhas férias, que poderia passar por pedalar a EN2, realizar um percurso de norte a sul pelas ciclovias mais a este de Portugal, pedalar o desafio Portugal Divide, ou outro que me ocorresse ainda antes do início das férias, voltas todas bem diferentes entre si. Quis o destino que conseguisse comprar, precisamente uma semana antes do início das férias, uma bicicleta híbrida, a Riverside 920, (curiosamente na Decathlon), bicicleta que permite rolar relativamente bem em estrada e aventurar um pouco mais por estradões e trilhos pouco técnicos. Coloquei de parte fazer a EN2 com a bicicleta de estrada, que era o percurso que menos me entusiasmava, e decidi tentar concretizar o challenge Portugal Divide, desafio que consiste na interligação, de bicicleta, ao longo de uma única etapa, do Centro Geodésico e dos Pontos Extremos de Portugal Continental (pontos mais a Norte, Este, Oeste, Sul e mais alto), sendo a rota livre.

Nunca seriam menos de 1200 quilómetros a pedalar, e tinha estimado cerca de 7 dias relativamente tranquilos para completar o desafio. Todo conceito e regras do Desafio Portugal Divide estão disponíveis clicando aqui, para o caso de pretenderem também fazer este desafio.
A minha ideia, mais ou menos romântica, para completar este desafio, era a de pedalar sete etapas, mais ou menos de 180 km cada, tranquilamente ao longo de um misto de caminhos e de estrada, que permitissem ir absorvendo a paisagem e parando aqui e ali para desfrutar da atmosfera, de um local que permitisse dar um mergulho, ou de um ponto de interesse que motivasse a sua contemplação. Sendo esta uma aventura enquadrada no conceito ”bikepacking”, pareceu-me ambicioso demais apostar no conceito mais radical do bikepacking, de ir acampando ao longo do caminho, pelo que optei pelo “outsourcing” de dormidas e comidas ao longo do caminho.

Ora se a bicicleta chegou uma semana antes da partida, o resto do equipamento foi escolhido posteriormente e chegou ainda mais em cima do dia D. Com tão pouco tempo para investigar, escolher e receber, optei por uma versão low cost de todos os equipamentos de bagagem, equipando a bicicleta com um porta bagagens e dois alforges. Apesar de hoje considerar que essa não foi a escolha mais equilibrada para o percurso que fiz, não me posso queixar da fiabilidade de qualquer um destes equipamentos. Zero problemas técnicos ao longo dos 1264 quilómetros que pedalei, e tirando alguns sinais normais da utilização intensiva, tudo se portou à altura, excepto o descanso da bicicleta que se revelou ineficiente na sua função.
A etapa do planeamento das minhas aventuras, dá-me sempre muito prazer a realizar, e é meio caminho andado para o sucesso das mesmas. Desta vez, no entanto, não consegui realizar esta etapa com a qualidade que pretendia. Uma última semana de trabalho muito complicada ao nível profissional contribuiu para que o planeamento fosse quase limitado à divisão do percurso pelos dias, descurando um pouco a orografia de cada etapa. É bem diferente planear um passeio com mais de 1200 Km que uma ultra maratona com 100 ou 160 Km. Assim, algumas surpresas foram surgindo ao longo dos primeiros dias e a estratégia foi sendo ajustada à medida que os quilómetros passavam.
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