Na véspera tinha agendado o pequeno-almoço para as 8h00 e só este compromisso me fez saltar do conforto da cama tão cedo.
Se a subida à Torre tinha parecido “fácil”, hoje as pernas encarregaram-se de dizer “presente” e estavam fortes mas pesadas.

Aproveitei o acesso directo da Casa da Almoinha à praia fluvial de Unhais da Serra e fiz uma sessão gratuita de crioterapia. A ideia era dar um mergulho, mas a água estava gelada e o sol ainda não incidia por ali, pelo que me pareceu que a possibilidade de apanhar uma constipação seria elevada. Assim permaneci longos minutos apenas com as pernas submergidas na água gelada, que no fundo era o que necessitava mesmo de recuperar.

Tomei um pequeno-almoço sumptuoso, cheio de pequenos mimos gastronómicos que adoro, numa paisagem fantástica no sopé da serra, e estava a ser difícil retomar o desafio, mas o que tem de ser tem de ser e assim me fiz de novo à estrada.

O objectivo para este dia era conquistar mais um ponto deste desafio: o Centro Geodésico de Portugal.
Por algum motivo que não me recordo, tinha ficado com a ideia que esta etapa seria essencialmente a descer, algo que os quase 2.200 m de desnível positivo no final do dia desmentiram facilmente.
Os primeiros 10-12 quilómetros foram a continuação da descida da Torre até Unhais da Serra e foram, obviamente, muito tranquilos. O pior chegou depois. Todo o esforço da etapa do dia anterior surgia agora nas minhas pernas, que pareciam teimosamente não querer pedalar.
Para ajudar à festa, o percurso estava a ser um belo “parte-pernas”, cheio de sobe e desce, que não me permitia manter um ritmo constante e tranquilo a pedalar. Após 50 quilómetros deste parte pernas, aproveitei o facto de estar no topo de (mais) uma subida e surgir um restaurante à beira da estrada, para parar em Orvalho e aí petiscar algo ao almoço. Com uma sopa, uma sande de presunto, um gelado e um café no bucho, fiz-me de novo ao caminho, mas devo dizer que após Orvalho há uma subida do car….! Mais 5 quilómetros a subir com uma inclinação média de quase 9%, que queimaram logo as calorias da sopa e do presunto.

Para compensar os 40 quilómetros seguintes foram relativamente tranquilos, quase paralelos ao Rio Zêzere que agora me fazia companhia, e num percurso que já conhecia do Granfondo Aldeias de Xisto, embora nessa altura tenha feito essa estrada em sentido contrário. Passei pelo cenário desolador que o fogo tinha deixado naquela região há pouco mais de uma semana, e nunca consigo perceber o porquê de certas pessoas causarem todo este mal à nossa paisagem e ao bem comum que é toda a floresta.

Aproveitei a passagem pela Sertã para descansar e comer alguma coisa no Parque da Carvalha, parque muito aprazível para descansar num final de tarde solarengo, e de onde já me estava a custar sair. Mas mais uma vez lá me fiz à estrada e segui rumo ao Picoto da Melriça que era esse o objectivo do dia.

Com o percurso novamente bem estudado, os últimos 10 quilómetros a subir nem custaram tanto. Na realidade o que custou mais foi mesmo o último quilómetro já no acesso ao picoto. Quase 10% de inclinação média com alguns momentos a roçar os 15%. Não houve outro remédio senão chegar ao topo com a bicicleta na mão.
Obviamente, quando cheguei, o Museu da Geodesia que ali se encontra já estava fechado, o que me vai obrigado a lá passar numa outra oportunidade. Confesso, que mesmo tendo estudado Geodesia durante muitos anos, foi a primeira vez que fui à Melriça e nunca visitei este museu.
Objectivo conquistado, era altura de decidir entre rolar mais um pouco ou ficar já ali por Vila de Rei, e tentar recuperar o máximo para os dias seguintes. Procurei onde ficar e por sorte consegui apanhar o último quarto disponível no Hotel Vila de Rei, onde pernoitei tranquilamente até de manhã.

Resumo desta jornada:
Distância 122,7 km
Elevação + 2.153 m / -2.339 m
Desnível Máximo 15,1%
Desnível Médio 2,7%
Velocidade média 17,1 km/h
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