O meu primeiro Portugal na Vertical

O universo do ciclismo de longa distância está repleto de aventuras, paisagens e, mais importante, desafios pessoais que nos levam a superar limites e a descobrir uma força interior que desconhecíamos. Um destes imensos desafios é o Paris-Brest-Paris (PBP), mas, antes de nos aventurarmos nessa odisseia de 1200 Km, há um caminho de qualificação a ser cumprido.

Para ser elegível para o PBP, é imperativo completar, no ano do evento, a série completa dos Brevets des Randonneurs Mondiaux (BRM): 200 Km, 300 Km, 400 Km e, o mais intimidante, 600 Km. Mas a luta por um dos cobiçados 8000 lugares disponíveis no PBP não termina aí. Para assegurar minha vaga, em 2022 decidi enfrentar o BRM de 600 Km, um desafio audacioso denominado “Portugal na Vertical”, que se estende de Viana do Castelo até Odeceixe.

O meu máximo até então eram 320 Km, mas a confiança estava lá. Assim, após uma viagem de comboio e uma noite bem dormida, juntei-me a 10 outros randonneurs determinados para a partida. Como é típico nestas aventuras, o grupo depressa se dividiu de acordo com o ritmo de cada um.

Lembro-me vivamente da passagem por Matosinhos e da loucura de atravessar a foz do Porto durante as festividades do São João. Era uma dança frenética entre as multidões e as bicicletas. Junto com o Jorge e o Miguel, enfrentámos o desafio de um pequeno desvio do Check Point em Ílhavo, adicionando 15 Kms extra ao já extenso percurso.

A noite trouxe consigo a tranquilidade das estradas vazias. Já pela manhã, o pulo entre o Parque das Nações e o Cais do Sodré fez-se sentir com a adrenalina de uma corrida amigável com ciclistas que nos desafiavam, mesmo depois de já termos mais de 400 quilómetros nas pernas.

Atravessado o Rio Tejo, enfrentámos a Serra da Arrábida, até atravessarmos o Rio Sado em direção a Tróia. Depois o intenso calor alentejano foi um verdadeiro teste à resistência e determinação. E, como se isso não fosse suficiente, as subidas para Santiago do Cacém e para o Cercal trouxeram à tona a realidade topográfica do Alentejo: ele definitivamente não é plano.

No entanto, com a noite como companhia e com as energias recarregadas, a chegada a Odeceixe foi uma celebração não apenas de mais um desafio superado, mas também da garantia da minha vaga no PBP 2023.

Assim começou esta jornada, uma pré-aventura rumo ao desafio supremo que o PBP representa.

E que venha o PBP 2023!

Sobre mim…

Chamo-me Nuno Gião e sou um atleta de pelotão que gosta de correr longas distâncias. Se há uns anos atrás me tivessem dito que ia correr uma meia maratona eu chamaria louca a essa pessoa. Imaginem se me dissessem que em 2014 iria correr uma prova 100 Km... Actualmente corro Ultra Trails, participo em desafios de endurance na natureza e é sempre uma enorme satisfação que cruzo as mais fantásticas paisagens. Tento superar os diversos desafios a que me proponho. A vida é demasiado curta e bonita para ser desperdiçada sentado num sofá.

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