Junho é uma época de celebração. Para alguns, sinaliza festividades como o Santo António e o São João, para outros, como eu, este mês trouxe consigo o aguardado brevet de 600 Km – a última pedra no caminho para a qualificação para o lendário Paris-Brest-Paris.
Em contraste com os anos anteriores, este ano o BRM de 600 Km foi no início de Junho, evitando assim a animação característica do São João. No entanto, cruzar o Porto junto ao Rio Douro ainda foi um desafio, dada a agitação da cidade e o elevado volume de turistas.
O trajeto? O já conhecido “Portugal na Vertical” que começa em Viana do Castelo e termina em Odeceixe. Tendo já conquistado esta rota anteriormente, senti uma tranquilidade adicional e uma vigorosa confiança.
Reunido o grupo para a partida, este ano éramos 21 os randonneurs que tentariam completar o brevet. Partimos e, como idealizado, fiz os primeiros quilómetros no pelotão da frente. Mas, neste tipo de desafios, temos de estar preparados para todos os imprevistos. Apesar de todas as verificações efetuadas, ao fim de 20 e poucos quilómetros o pneu de trás estava a perder ar. Estava a rodar com pneus tubeless, isto é, sem câmara de ar, e todos os treinos que tinha feito anteriormente nunca tinham dado qualquer problema; que raio de altura para surgir um imprevisto. Lá tive de parar e de abandonar o pelotão que tinha idealizado seguir, seguindo sozinho e em último até quase a Matosinhos.
O trajeto até Matosinhos foi um verdadeiro massacre, com paragens de 30 em 30 quilómetros para encher o pneu. Este problema persistiu até à Figueira da Foz, onde tive a ideia de colocar mais pressão no pneu do que é recomendado, solução que acabou por resolver o problema, não tendo necessidade de encher novamente o pneu até ao final do brevet.
Voltando um pouco atrás, seguia sozinho quando perto de Matosinhos apanhei o António Bento. Acabámos por cruzar o Porto e pedalar até à Afurada juntos, mas as minhas pernas queriam pedalar mais rápido, pelo que nos separámos um pouco depois.
Conhecer o trajeto é mesmo uma mais valia, pelo menos para mim, que assim já sei onde devo gerir melhor o esforço e onde posso “apertar” um pouco mais. Desta vez não falhei o posto de controlo de Ílhavo e, para minha surpresa, ainda estava cheio de randonneurs a prepararem-se para sair. Comi uma sopa depressa, de modo a ainda conseguir sair com eles, pois apesar de não ter qualquer problema em pedalar sozinho, pedalar acompanhado é sempre melhor, não só pela companhia, mas também pelo revezamento no esforço.
Infelizmente o grupo não durou muito tempo junto. À chegada da Figueira da Foz, dois desistiram, eu tive de encher o pneu, e dois seguiram, pelo que acabei por continuar sozinho mais umas dezenas de quilómetros. Entretanto apanhei os dois fugitivos da Figueira da Foz, o Júlio e o Moab, acabando por chegar ao ponto de controlo de Casais de Santa Teresa ainda antes deles. Repus as energias e arranquei sozinho tendo apanhado outro randonneur, o Carlos, uns quilómetros mais à frente. A ideia era seguirmos juntos o mais possível, mas o cansaço da noite em branco fez-se sentir e tive de parar para beber um café e reforçar o pequeno almoço, pelo que acabaria por seguir a solo até Lisboa.
Check point no Parque das Nações e desta vez viagem tranquila até ao Cais do Sodré sem “picanços” como em 2022. Foi altura de atravessar a margem sul, cruzar a Serra da Arrábida e chegar a Setúbal para apanhar o ferry para Tróia.
O percurso no Alentejo não foi penoso mas foi cansativo. Novamente com a companhia do Carlos, mas sempre a puxar, a pedalar contra o vento, e com as subidas de que nunca gosto para Santiago e para o Cercal. Desta vez o caminho entre Vila Nova de Mil Fontes e Odeceixe não foi tão prazeroso. Muito trânsito, com pouco respeito entre automobilistas e muitas ultrapassagens algo perigosas, uma estrada cada vez em pior estado que tornava a viagem pela berma algo perigosa, fez com que não desfrutasse deste troço.
Mas como quem não quer a coisa chegámos a Odeceixe.
Apesar de todos os percalços cheguei a Odeceixe com menos 1h30 de viagem que em 2022. Não foi mau, mas poderia ter sido bem melhor. O que realmente interessou foi que, com este, a séria de brevets necessários para a inscrição no PBP 2023 estava concluída e isso foi um excelente motivo para celebrar.
Dois meses e meio separavam-me agora da partida do PBP 2023.
Até já Paris!
Be First to Comment